quarta-feira, 21 de novembro de 2007

"deu branco..."

A Verdadeira Tropa da Elite


Agora tem que consertar na marra, na pancada, na tortura e no tiro. Criaram o BOPE. A culpa é de quem? “Do playboy que fuma o baseado” e do tráfico que mantém toda essa estrutura e cria um poder paralelo.
O Estado é bom e não tem culpa de nada, menos os policiais corruptos que ganham pouco, trabalham muito e ainda deixam tudo acontecer debaixo dos próprios olhos. É assim a visão da realidade mostrada no novo sucesso da pirataria - e porque não - de bilheteria agora.
Maracutaias e falcatruas em todos os setores e quem sempre sai perdendo? O povo, os trabalhadores: a verdadeira tropa da elite brasileira.
Com a abolição da escravatura uma grande massa do “populacho” foi jogada em pleno Rio de Janeiro, vistos como desordeiros e desocupados. Emprego pra todos não tinha, e os imigrantes não paravam de chegar o que deixava a disputa ainda mais acirrada.
A vontade de fazer do Rio de Janeiro um belo cartão-postal – digo em belezas criadas pelo homem e não as naturais – teve um alto preço. Com as reformas urbanísticas da era de Pereira Passos, da “belle époque”, o trabalhador brasileiro foi expurgado à periferia da cidade, ficando cada vez mais longe de seu local de trabalho, o centro carioca, onde na nova concepção deveria ser freqüentado pela classe alta brasileira, e atrativo para turistas do mundo todo.
Foi criada a Avenida Central, os aluguéis aumentaram (culpa da especulação imobiliária?) e o “embranquecimento da população” .... esta nunca se deu e nunca acontecerá.
Quem deu o “jeitinho brasileiro” foram os próprios brasileiros, a massa proletária que para ficar mais perto do local da labuta diária, em vez de seguir seu rumo em sentido horizontal ocupou os morros. Pelo menos uma vez na história o de cima desce e o de baixo sobe. A vista mais privilegiada do tão desejado cartão-postal fica sob a vista de quem menos pode pagar por isso.
Acaso? Sorte? Prefiro acreditar em ação e reação, mas o Estado se omite e muitas vezes tenta por vários meios ludibriar as mentes populares. O jogo de mocinhos e bandidos, heróis e corruptores continua. Céu e inferno, bom e mau, dizem que a moeda só tem dois lados, oito ou oitenta e continuam com esse maniqueísmo de fantasia.
A culpa cai até sobre o mercado da pirataria. Os altos impostos, a CPMF, a educação, saúde e segurança irrisórias ninguém mostra, ou ninguém quer ver. Mais uma vez o povo brasileiro dá o seu jeitinho, cria outro Estado, outra forma de vida, outro meio de consumo, leis próprias e ainda assim trabalha e sustenta a elite como uma verdadeira tropa.
Mas até quando? Pior para o Estado, a elite, a classe média. Será que o capitalismo não está caindo no abismo criado por ele mesmo?
A realidade de uns não é a realidade de outros, e mesmo sabendo do papel do cinema também como agente de mudanças sociais, nesta ocasião prefiro me envolver somente na ficção. Privemos nossas crianças desta realidade mascarada, se é que isso é possível ou se a mídia vai deixar.


Heitor Branquinho é compositor, cantor, instrumentista e poeta. Mora em São Paulo mas é natural de Três Pontas – MG.
heitorbranquinho@gmail.com

--

Texto publicado em minha coluna - "deu branco..." - no jornal Cidades em Foco, do Sul de Minas, em 02/11/2007

0 comentários: