terça-feira, 18 de setembro de 2007

Entrevista concedida à Maria Dolores para o jornal Correio Trespontano do dia 1º de setembro de 2007

Heitor Branquinho grava CD ao vivo com participação de Milton Nascimento

Cerca de 50 convidados assistem ao show realizado no Museu do Café, do qual também será gravado um clipe

Se sucesso depende de talento e determinação, o músico trespontano Heitor Branquinho está no caminho certo. Cantando na noite desde os 17 anos, ele, que tem hoje 23 anos e mora em São Paulo, sempre chamou a atenção pelo timbre vocal e pela facilidade de alcançar os dificílimos agudos. Tocando nos bares e bailes da vida, Heitor foi se aprimorando, e batalhando para gravar seu primeiro CD, “Deu Branco”, em 2004, num show de lançamento que lotou o Centro Cultural Milton Nascimento e emocionou o público.
De lá para cá, muita coisa mudou na vida desse jovem talentoso e determinado músico. Morou em Belo Horizonte, onde fez aulas de canto com Babaya e lapidou ainda mais a voz, divulgou sua música pelo Brasil, principalmente pela região Sudeste, participou de festivais, gravou trilhas, realizou trabalhos com outros grupos e artistas, de Três Pontas, outras cidades e com o próprio Milton Nascimento. E se em outras ocasiões foi Milton quem convidou Heitor para alguns projetos, no último sábado, dia 25 de agosto, deu-se o oposto. Foi Heitor quem convidou, e Milton Nascimento aceitou participar em duas músicas do show para cerca de 50 pessoas no Museu do Café, na fazenda Pedra Negra, para gravação do disco ao vivo e de um clipe. Uma participação que só veio tornar ainda mais especial a trajetória de Heitor Branquinho até aqui que, ainda emocionado pelo sucesso do show e o carinho do público, nos concedeu essa entrevista.

Esse é seu segundo CD, como surgiu a idéia de gravar um álbum ao vivo, apenas com voz e violão?

Primeiro surgiu o projeto, veio o nome "um Branquinho e um violão" e junto vieram as idéias todas. Algo ficava me incomodando, me cutucando, dizendo que eu tinha que gravar um novo CD, pois o lançamento do "deu branco..." foi em 2004 e muita coisa já tinha mudado desde então. Venho compondo o tempo todo, sozinho e também com muitos parceiros, fazendo letras, músicas, poesias, temas instrumentais, e também as influências mudaram muito (tudo muda o tempo todo!). Depois de muito pensado, em volta do nome comecei a delimitar algumas coisas, como por exemplo as músicas. Queria mostrar mais meu lado compositor, este processo de criação, por isso optei por gravar somente músicas e letras minhas, minha criação de uma forma plena. Também pelo nome é que surgiu a idéia de gravar somente "um Branquinho" (eu) e "um violão" (apenas um). Por ser apenas um violão quis gravar com o violão que tem sempre me acompanhado, desde quando comecei a tocar em bares pelo sul de minas no formato voz e violão com 17 anos. Sendo assim o nome ficaria bem ao pé da letra e sem brechas para dúvidas.

E por que a o Museu do Café, na Pedra Negra?

Começamos a criar a identidade do trabalho, eu e o Milton Lima (cenário e direção de arte) e o Marco Elizeo (som e gravação). Precisávamos de um lugar, a primeira idéia foi o centro cultural, mas achamos que lá seria um lugar muito grande, complicado para fazer a decoração, preocupados se teria público e também com a reação do público, por ser uma gravação e até porque seria uma gravação somente de músicas inéditas, e como disse o Chico Buarque: "se as pessoas não querem ouvir as músicas novas de velhos compositores, por que vão querer ouvir as músicas novas dos novos compositores?". Essa é uma idéia que muito me incomoda, não acho que tenha uma crise na música hoje em dia, mas sim uma crise no interesse das pessoas por descobrir coisas novas. Então não quisemos arriscar em um lugar grande. Seria só para convidados, amigos e pessoas que tem ligação com minha música desde o começo da carreira. As idéias de lugares foram muitos, a gente pensou até em fazer na sala da minha casa! E um dia de madrugada conversando com o Marco Elizeo tivemos a idéia de olhar o Museu do Café.

E você já conhecia o Museu do Café?
Eu nem conhecia o museu, mas de cara já gostei da idéia. A única notícia que eu tinha de lá era que o Marcos Ferreira, que foi meu professor de História do Brasil no UNI-BH, em Belo Horizonte é que tinha feito o trabalho de pesquisa do museu, só. Combinamos de no outro dia irmos lá dar uma espiada. E lá fomos os três, eu, Marco Elizeo e Milton Lima, e quando abrimos a porta eu já sabia que o local seria aquele. Gostei de tudo, da placa com o nome do museu, do piso, das armações de metal com as luzes... O Marco Elizeo foi logo testando a acústica, e deu o aval que era boa, e eu também gostei pela ambiência ser bem seca. O Milton Lima gostou muito também pela decoração e por caber um número razoável de pessoas, a Isaura e o Gustavo (proprietários do Hotel Fazenda Pedra Negra onde fica o Museu do Café) foram muito gentis e também apoiaram toda a idéia, então era só trabalhar muito agora. Assim, fechava mais uma identidade, gravar no Museu do Café em Três Pontas, minha cidade natal e representando seu produto mais famoso no mundo todo.

É seu segundo trabalho solo, o que espera dele?

Espero que as pessoas possam sentir o que tento transmitir: as mensagens das músicas. Sei que as coisas não acontecem da noite para o dia, e sim através de muito trabalho, e também que trabalhar com canções não é uma coisa muito fácil hoje em dia, sem cair no apelo da mídia, ou em "jabás". Mas acho que as coisas acontecem devagar, e se eu consigo passar alguma coisa boa para, pelo menos, mais uma pessoa, já fico muito feliz com isso. Acreditar no que a gente faz acho que é o primeiro passo. Ah, e também desrotular!

Quais as principais diferenças desse novo trabalho para o CD anterior "Deu branco..."?

Mais fácil é dizer uma semelhança: Eu! Mas até eu mudei! O "deu branco..." é um CD mais pop, já com algumas referências à MPB, mas em sua maior parte pop-rock.
Eu tinha mais essa concepção na época, então os arranjos foram produzidos pra ser assim, não que as músicas sejam assim, pois hoje toco as músicas com arranjos completamente diferentes, cada música tem sua essência. Agora tento não definir o estilo, tenho vontade de compor em vários ritmos, então por que me limitar? O que importa é a música, se ela foi feita de um jeito que me toca, está pronta! O “Deu Branco” também tem mais a mão do produtor do disco, o Jacques Mathias, do que a minha, pois ele tocou praticamente todos os instrumentos e mesmo eu estando do lado e palpitando em tudo, cada pessoa tem uma forma única de execução. Neste novo trabalho eu mesmo fiz a produção musical toda, e a execução é toda minha, então, bom ou não, sou eu. A voz também mudou bastante. Minha voz era mais rouca e nasalada e eu não tinha consciência disso, nunca tinha feito aulas de técnica vocal. Quando morei em BH fiz aulas com a Babaya dois anos e meio e acho que foi uma mudança bem significativa.

O Milton Nascimento fez participação especial em duas músicas? Como foi a idéia de convidá-lo, o que ele acha do projeto?

O Bituca primeiramente é um grande amigo, e amigo a gente sempre quer por perto.
Quando fiz a letra de "Amigo", mostrei pra ele e ele gostou muito, é uma coisa muito nossa. Não passou muito e fiz a música. Por coincidência o tom da música é em Sol, mesmo tom da tradicional sanfoninha. A gente tava em Búzios em umas férias, e o chamei pra gente tentar tocar a música juntos, eu no violão e cantando, e ele na sanfoninha, e ele topou na hora. Passamos só os dois no quarto, sem ninguém ver, e achei que ficou linda demais a música com a sanfona. Já não poderia mais ser sem o Bituca e "ela" (a sanfona), e daí surgiu o primeiro convite, que quando eu fosse gravar meu próximo CD ele participaria tocando sanfona nessa música, mesmo sem saber quando seria, e ele topou. Com a música "O que vale é o nosso amor" foi o seguinte: Estava em São Paulo lendo um livro, de madrugada, e tinha uma parte em que a personagem dizia alguma coisa sobre o amor do mundo, o amor que as pessoas sentem, e mesmo ela com todas as dificuldades era uma pessoa feliz por sentir esse amor, foi daí que tirei a idéia. Parei de ler o livro e a música saiu na hora. Toda a sucessão de palavras, o refrão e a idéia. Pensei em chamar o Bituca pra cantar comigo na hora, achei que a música tinha haver com ele, e era um bom ideal, achei que ele iria gostar. Já imaginava ele cantando. Gravei a música em uma versão voz e violão e quando fui à casa dele no Rio, ouvimos juntos. Acabou a música, ele pediu pra ouvir de novo. Já era um bom sinal. Quando acabou a segunda execução eu disse que queria que ele cantasse essa música comigo, quando eu fosse gravar meu CD (ainda sem saber quando), e ele disse assim: Claro! (com aquele jeito só dele). Eu quase explodi! Agora só faltava saber quando e como seria. Sinto que ele gostou da idéia sim, senão nem teria participado, mas ele já ter topado antes mesmo de saber como seria, já foi pra mim uma prova muito grande de confiança.

Além do CD, será feito um clipe. Há a possibilidade de transformar o show em um DVD?

O clipe será só da música "O que vale é o nosso amor", com a participação do Milton. Acho que não sairá em DVD não, pois DVD é um projeto maior e mais caro também. Quem sabe mais pra frente não ocorra outro show, e então a gravação do DVD, mas por enquanto só o clipe.

O que você achou do show, do público?

Eu sou meio suspeito pra falar né, mas eu adorei. Parece que tudo tava num clima tão bom, uma energia muito forte. Todo mundo torcendo pra dar tudo certo. Quem trabalhou estava bem envolvido, essa vontade, mais a eficiência faz as coisas funcionarem. Achei que seria complicado tocar 16 músicas sem ninguém conhecer nada, e até desgastante para o público, mas o que senti foi completamente diferente. Parece que todos os presentes interagiram, cantaram, acompanharam nas palmas e colaboraram pra sair tudo melhor do que o esperado. Pra mim foi um desses momentos sem explicação, onde a gente sai do mundo.
Ficha técnica do Show:

Produção musical e executiva: Heitor Branquinho
Direção de arte e cenário: Milton Lima
Captação de áudio: Marco Elizeo, Adriano Hard e Rogério (Canil Pro Áudio)
Captação de Vídeo: Tamago
Produção: Elias Mesquita e André Duarte
Maquiagem: Maria Teresa Caxin
Agradecimentos: Correio Trespontano, EPTV, Hotel Fazenda Pedra Negra, Art Café Design, Tribo Produções, Salommão Bar, Buxarella (Paulão Buxa).